Lições aprendidas na Suécia

Hoje encerro a minha temporada no maior país em extensão territorial da Escandinávia, e aproveito para compartilhar algumas lições aprendidas em quase dois meses de estadia por aqui. Foi a minha maior permanência em um local desde que iniciei a viagem.

A Suécia é um belíssimo país, de gente bonita e natureza exuberante. Um lugar desenvolvido, organizado, tranquilo e seguro onde todos são considerados iguais e cujo sistema assistencialista é um dos mais generosos do mundo em termos de apoio familiar, inclusive para os imigrantes.

Nota: algumas ilustrações destacadas a seguir são do Nicholas Lund, publicadas no livro The Social Guidebook to Sweden, escrito por Julien S. Bourrelle.

1) Desenvolvimento

O desenvolvimento é algo antigo por aqui. Muitas práticas ainda embrionárias em outras regiões do mundo já fazem parte da rotina da população há bastante tempo, como a separação do lixo, os transportes elétricos, robôs e pagamentos pelo celular.

Estacionamento com sistema elétrico para recarregar os carros.

 

Robô para aspirar a casa.

 

2) Igualdade de gênero

A cultura sueca idealiza a ideia de que ambos os sexos têm os mesmos papéis na sociedade. As crianças crescem com a orientação de que não existem diferenças entre gêneros. O resultado é uma sociedade igualitária onde homens e mulheres cuidam dos filhos, lideram negócios e fazem trabalhos manuais.

Esta cena do pai cuidando do filho sozinho é muito comum em cada esquina.

 

Esta casa foi construída por uma mulher sozinha durante uma semana.

 

Em muitos estabelecimentos, não há divisão de banheiros por gênero.

3) Regras, disciplina e honestidade

Pense num povo certinho, confiável e honesto, que respeita as regras sem questionar. Eles vão pagar o estacionamento e comprar os bilhetes do trem, mesmo não havendo fiscalização. É muito comum encontrar objetos pessoais como roupas, acessórios e brinquedos esquecidos em locais púbicos. Ninguém mexe. Eles acreditam que o dono vai voltar ao local para buscar. Isso vale inclusive para equipamentos eletrônicos.

Máquinas como essa para pagar o estacionamento nas ruas da cidade estão espalhadas por todo país.

4) Ser mediano é o suficiente

Eles tentam não gerar competição, encorajam e ajudam uns aos outros desde crianças para alcançarem os mesmos resultados. Existe um entendimento compartilhado de que os fortes devem ajudar os mais fracos para que todos sejam iguais no final. Ou o mais talentoso ajuda o menos talentoso para que todos acabem na média.

 

5) As decisões são baseadas em consenso

O consenso ajuda a prevenir tensões e conflitos (que eles evitam ao máximo). Os suecos preferem ficar calados para não criarem situações tensas.

 

6) Boas maneiras

Ser educado na Suécia é não perturbar os outros. Códigos sociais, normas e boas maneiras são diferentes por aqui. Eles só vão te abordar se realmente houver um propósito para iniciar uma conversa, porque respeitar o espaço, privacidade e silêncio de cada indivíduo é muito importante. Eles precisam de espaço! Muito espaço. Adoram se isolar na Natureza longe de tudo e de todos.

 

 

 

7) Atividades sistematizadas e com propósito

Um dos maiores desafios para quem visita o país é se conectar com os suecos, que são em sua grande maioria tímidos e reservados. Eles se socializam melhor em torno de atividades sistematizadas, como esportes, jogos e organizações. Formam bolhas sociais que não interagem tanto com as outras. Se a intenção for fazer amigos nativos, a dica é entrar em uma dessas bolhas.

 

8) Independência

Eles fazem tudo por conta própria. Constroem, pintam, montam, limpam. Cozinham, cuidam das crianças, do jardim, dos animais de estimação, da rua, do bairro. São muito independentes!

9) País amigo das crianças

Os recursos e benefícios disponíveis promovem a liberdade e desenvolvimento das crianças, garantindo integralmente seus direitos. O comprometimento com a saúde e educação é prioritário há décadas, cujo programa Cuidados e Educação na Primeira Infância inclui as crianças imigrantes e as pertencentes a grupos vulneráveis – crianças desacompanhadas, refugiadas e que buscam asilo. Mas esse comprometimento vai muito além da saúde e educação, engloba também a segurança que permite as crianças circularem sozinhas pelas ruas a pé ou de bicicleta e BRINCAREM!

 

 

10) Uso da bicicleta

Nas cidades menores, é muito mais comum o uso da bicicleta que do carro. Há estacionamento por todo lado!

11) Construções naturais

O uso de recursos naturais para harmonizar com a Natureza também é muito comum nos espaços públicos.

 

12) Separação do lixo para reaproveitamento e reciclagem

Esta foi uma das práticas que mais me chocou positivamente. É impressionante como a maioria da população local utiliza de forma independente e consciente os coletores disponíveis nas ruas, condomínios e parques. Eles separam as garrafas por cores, os diferentes tipos de papéis e embalagens, além de terem coletores específicos para roupas, calçados e acessórios que são destinados para doação ou lojas de segunda mão. Inclusive, o país acaba de ganhar um shopping, na cidade de Eskilstuna, que só vende produtos reutilizados (ideia de um grupo de ativistas ambientais).

 

 

 

13) Fika

Fika é o sagrado lanche sueco. É a pausa que eles dão para comer algo no parque, no jardim de casa, na cafeteria, no trabalho, na escola. Não importa o lugar! Às vezes, a fika substitui o almoço (mas nunca o jantar, que é sagrado por aqui). O picnic no verão é uma prática muito frequente, uma das minhas atividades preferidas: comer sentada na grama dos parques, tomar um sol, sentir o clima bucólico e depois tirar um cochilo.

 

 

14) Festas

Apesar de tímidos e reservados, o povo sueco é muito festeiro!

Festa junina com a participação de suecos.

 

 

 

15) Religião

A grande maioria da população não é adepta a nenhuma prática religiosa. É difícil até encontrar igrejas no país.

 

16) Clima

Affe! Pense num lugar cujo verão não passa dos 25ºC mesmo com o sol brilhando até meia-noite. Eu peguei 8ºC em pleno mês de julho (auge do verão), com direito à lareira.

Lareira em pleno verão.

 

Claridade da meia-noite.

 

Pôr do sol após meia-noite.

 

Ressalto que estas foram as minhas principais experiências pessoais. Obviamente, não se pode generalizar. O meu objetivo com o blog é sempre compartilhar os pontos positivos, enxergar o copo cheio. No entanto, tem um tema que vem me incomodando muito desde que cheguei na Europa: o cigarro. As pessoas aqui fumam demais, inclusive em espaços fechados (alguns países permitem) e acham que cigarro não é lixo (vide imagens abaixo):

 

 

Chocados? Na Espanha e em Portugal é ainda pior.

E mesmo estando na nata (Escandinávia) da nata (Europa) em termos de desenvolvimento, há pessoas mal educadas e sem consciência. Para aqueles brasileiros que sofrem da síndrome do vira-lata e acham que lixo só existe no chão do Brasil, compartilho alguns registros feitos por mim em uma área residencial de Estocolmo, com a presença de pouquíssimos imigrantes e turistas.

 

 

As imagens são para refletirmos o tamanho do nosso desafio em relação à proteção ao meio ambiente.

[Pausa para reflexão]

Sou muito grata a todas oportunidades e aprendizados que a Suécia me proporcionou. Especialmente às brasileiras Carolina Boschetti, Andrea Silva e Celia Malmqvist pela calorosa hospitalidade. Amizades para a vida!

Hoje à noite embarco para a Dinamarca em busca de novas experiências. O planejamento é ficar até 9 de setembro aprendendo sobre construção com recursos naturais em duas ecovilas: FrilandAndelssamfundet i Hjortshøj. Rumo a novos voos!