Pedras no caminho

No mês em que completei um semestre de jornada, fui presenteada com um lugar que me fez sentir um pouco em casa: clima quente, praias paradisíacas, montanhas imponentes, por do sol digno de aplausos e brisa refrescante.

Depois de um verão inteiro na Escandinávia, com temperaturas típicas do inverno carioca, eu merecia esse mimo.

Desembarquei na capital da Croácia e vim direto para uma das suas principais ilhas. Desde que cheguei em Milna/Brac, tenho aprendido a lidar com algo que sempre trouxe desconforto em minhas longas caminhadas: as pedras.

Quem já me acompanhou em aventuras sabe que trilhas em cachoeiras sempre foi um grande desafio para mim, ninguém tirava o meu título de retardatária do grupo.

Nunca vi tanta pedra na minha vida, gente! Não bastasse as casas e as ruas serem de pedras, as praias também são, tornando inviável um mergulho com os pés descalços. Nada contra, tá?! O lugar é lindo e a energia incrível…

Praia Makarac

A energia é tão forte que eu escolhi um pequeno cristal para me acompanhar nos próximos anos de jornada. Ele terá um lugar bem especial na decoração da escola que sonho co-criar.

Cristal para representar os meus passos

Toda essa longa introdução foi para compartilhar algumas lições que aprendi com essas pedras que apareceram no meu caminho.

Uma das primeiras atividades como voluntária na Gea Viva, espaço ecológico em que estou hospedada, foi construir muros de pedras secas. Nenhum material foi necessário além das pedras de diversos tamanhos e formas disponíveis no terreno.

Um dos pequenos muros construídos

O desafio principal deste tipo de atividade é construir uma base sólida. Encontrar as maiores pedras e tentar encaixá-las como num quebra-cabeças. O esforço além de físico é também mental. Uma escolha errada e o muro ou parede pode desmoronar facilmente.

Um dos muros que tivemos que reconstruir por ter desabado

Fazendo um paralelo com as nossas vidas, essa base sólida representa a construção da família, dos valores pessoais de cada indivíduo. Um pequeno deslize nessa formação pode gerar uma vida bamba prestes a desmoronar com um vento mais forte.

Conforme vamos evoluindo, acrescentamos novas camadas nessa base: educação, amigos, companheiros, trabalho, espiritualidade, prazeres. Escolhas que fazemos para a construção do nosso ser. Tudo conectado e integrado. Uma pedra mal escolhida e encaixada põe em risco todo o equilíbrio vital.

O meu muro já caiu algumas vezes. Sim, fiz escolhas erradas que comprometeram totalmente a estabilidade da minha vida gerando depressões inclusive.

No entanto, a minha base (família e valores) permaneceu firme. Foi de onde sempre tirei forças para reconstruir-me através de novas escolhas.

Sigo construindo. A cada dia encaixo uma pedra com tamanho e formato diferente. O vento tem soprado forte, mas dessa vez parece que fiz as escolhas certas. Meu muro continua de pé!