Faz diferença gostar do que se faz?
O filósofo, escritor e educador Mario Sergio Cortella, em entrevista à revista Época Negócios, faz uma distinção entre trabalho e emprego: “Emprego é fonte de renda e trabalho é fonte de vida. Meu trabalho é minha obra. A noção grega de obra é poiesis. De onde vem poesia, que é o que você elabora. Eu gosto dessa ideia. Tanto que não há estresse no meu trabalho, só cansaço. Cansaço resulta de um esforço intenso e estresse resulta de um esforço para o qual você não vê sentido. Cansaço se cura descansando. Estresse só se cura se houver mudança de rota. Você está cansado quando na segunda-feira, ao acordar, quer dormir mais um pouco. Estressado você está se não quiser nem levantar. É quando você fala ‘liga lá e diz que eu morri’.”
Quem nunca passou por esse estresse?
Eu, particularmente, estava estressada e mudei a minha rota.
Comecei a entender que havia diferença em gostar do que se faz quando descobri o trabalho voluntário. Não era uma fonte de renda, era uma fonte de vida. Eu escolhia a minha obra, a minha poesia. Foi assim no Praia para Todos e também no Rio 2016.
Compartilho o presente em forma de poesia que recebi do amigo Carlos Eduardo Pereira ao término do meu trabalho como voluntária nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016:
Pequena Gigante
Dessa terra de Guanabara
Nessa terra de gigantes
Surge ela que não para
Mira o céu e segue avante
De vida em vida
Do interior à cidade
Se realiza no cheiro do mato,
Uma mochila nas costas, uma nova amizade
Ainda que tempo fechado
Seus olhos não vêem o obscuro
Transborda a quem anda ao seu lado
Ela é Eos, com orvalho e tudo
De todos os cantos do mundo
Convidou a conhecer sua terra
Andorra, Burundi, Lesoto
Me digam, se não é a mais bela?!
Quem dera se de ti
Deus fizesse mais mil
Certamente mais justo, mais lindo
Seria nosso amado Brasil
Se chegar o dia em que chorar
De bons conselhos é bom recordar
Essas sementes plantadas de amor
Vão florir e o coração confortar
Ainda que o homem invente
Não creio que um dia ela exista
Moeda que te pague, valente!
Coragem e nunca desista
Receba de nós o amor
Da criança, idoso ou mocinho
Receba dos céus os seus dons
Voe alto, deite em nuvens, passarinho
Hoje, a minha obra é nas escolas do mundo. Sirvo às crianças e dou apoio aos educadores. Não tenho renda, mas tenho vida. É cansativo? Muito! Mas nada que uma noite bem dormida resolva.
Gratidão, amigo Carlos, por me recompensar com poesia.
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