Partilha de alimentos na Alemanha

Nos últimos meses, tenho me dedicado mais às pesquisas e trabalhos voluntários na área de Sustentabilidade que na área de Educação (apesar de ter visitado dois projetos educacionais na Holanda em maio). Não foi uma escolha, muito menos uma decisão planejada. Tem acontecido organicamente através das oportunidades surgidas durante o caminho e sinto-me muito à vontade com o fluxo natural do universo.

Para aqueles que voam comigo em benefício da Educação, reforço que as duas áreas caminham juntas. Portanto, sempre aprendo sobre educação quando exploro a diversidade de projetos sustentáveis em andamento pelo mundo.

Recentemente, escrevi dois textos que resumem estas últimas experiências. O primeiro para o site Brasileiras pelo Mundo e o segundo para o site Broto Design:

1) Vida em comunidade: o que tenho aprendido residindo em ecovilas na Europa

2) Dá pra ajudar a salvar o mundo sem nem sair do sofá

No texto em parceria com a Broto, eu relembro a minha primeira passagem pela Alemanha (que foi mais rápida que a atual, apenas quinze dias na cidade sustentável de Freiburg em novembro/2017), onde conheci e utilizei o Food Sharing para me alimentar gratuitamente (neste post na minha página pessoal do Facebook, compartilhei detalhes sobre esta experiência).

O Food Sharing (partilha de alimentos) é uma plataforma online criada em 2012 em Berlim (que pretende ser uma plataforma de código aberto, mais acessível em todo o mundo). Tornou-se um movimento internacional com mais de 200 mil usuários registrados na Alemanha, Áustria, Suíça e outros países europeus. Os membros da comunidade trabalham de forma voluntária e gratuita. Segundo estatísticas do site, 39.480 foodsavers – como eles chamam os voluntários – e 4.520 empresas cooperam continuamente com o projeto. Os principais parceiros estão consolidados neste link.

É uma iniciativa para evitar o desperdício, salvando alimentos indesejados e superproduzidos em residências particulares ou em pequenas e grandes empresas, que já salvou 15.317.652 kg de alimentos no total em 1.003.128 operações de resgate.

Como um movimento de política educacional, o projeto é comprometido com metas ambientais e de consumo sustentáveis. Além de promover campanhas de conscientização contra o uso dos descartáveis e contra as embalagens nos supermercados. Olha a Educação inserida aí! 😉

Após o post que fiz no ano passado, alguns amigos da área de TI manifestaram interesse em desenvolver uma plataforma parecida no Brasil. Imaginem como meu coração transbordou de alegria e esperança com esse movimento. Isso só me motiva a continuar escrevendo e compartilhando! 🙂

E é exatamente isso que pretendo com esse texto! Toda essa gigante introdução foi para apresentar o projeto social que visitei ontem e hoje em Bayreuth, região alemã apelidada como Bavária siberiana. Um amigo alemão que conheci durante a viagem à Amazônia em 2016 está me hospedando por duas semanas e intermediou a visita. Gratidão, Wolfgang!

A Tafel Bayreuth eV é uma associação sem fins lucrativos fundada em 2004 (antes do Food Sharing) que também coleta e compartilha alimentos excedentes com o apoio de 100 voluntários (incluindo 30 motoristas), doadores da comunidade, indústrias alimentícias, empresas privadas, supermercados e fazendas da região que atuam como patrocinadores do projeto.

O objetivo é fornecer ajuda complementar a pessoas com dificuldades econômicas e, ao mesmo tempo, reduzir a destruição inútil de alimentos consumíveis. Todos os produtos entregues são classificados e cuidadosamente verificados pela equipe voluntária. Posteriormente, os alimentos que incluem pães, bolos, vegetais, frutas, ovos, laticínios e mantimentos básicos são distribuídos para cerca de 1300 famílias (incluindo alemães e imigrantes do Iran, Iraque, Síria, Rússia e África em sua grande maioria).

As famílias beneficiadas semanalmente precisam cumprir alguns requisitos básicos, como por exemplo: ser um morador de Bayreuth ou arredores com baixa ou nenhuma renda, ou receber subsídios de alojamento e benefícios sociais. Os beneficiados contribuem com uma moeda para ajudar nas despesas básicas do projeto (só o aluguel mensal do espaço custa 2 mil euros!). A contribuição é de 1 € (para uma pessoa), 1,5 € (para duas pessoas) e 2 € (para três pessoas ou mais). A distribuição de alimentos é feita às quartas e sábados das 12h00 às 18h00 e cada família pode retirar os alimentos apenas uma vez por semana, de acordo com o sistema e agenda de cores dos cartões cadastrais.

Informações em diferentes idiomas para atender aos usuários

Vivemos em tempos de abundância de um lado e escassez do outro. Quantidades absurdas de comida impecável são destruídas diariamente e, ao mesmo tempo, muitas pessoas não têm condições de se alimentarem de forma adequada e saudável. A Tafel Bayreuth constrói uma ponte entre desperdiçar comida e aliviar as dificuldades.

O gestor Stefen Kühnlein, que trabalha há 14 anos no projeto, me recebeu com muita gentileza e atenção no dia dedicado à limpeza e organização do espaço e compartilhou o seu sonho pessoal por um mundo igualitário, onde projetos como esses não sejam mais necessários. Aho, Kühnlein!

Repararam que ambas as iniciativas aqui compartilhadas não são geridas pelas autoridades governamentais nem recebem apoio destas entidades? Pelo contrário, foram iniciativas individuais com o apoio de voluntários da comunidade e empresas privadas.

Há muitas iniciativas como essas acontecendo também no Brasil. O aplicativo Tem Açúcar? para compartilhar itens com os vizinhos e as hortas comunitárias são bons exemplos. Neste texto da minha amiga permacultora Chachá, ela lista alguns bairros no Rio de Janeiro que já implementaram as hortas urbanas comunitárias.

Se você souber de alguma iniciativa legal no seu bairro ou cidade, compartilhe aqui também. Vamos espalhar coisas boas pelo mundo!