Um ano sem chaves

Há um ano vivo sem chaves.

Antes de começar a voar nessa jornada pelo mundo, como qualquer moradora de cidade grande, eu tinha muitas chaves:

– Do apartamento alugado em Copacabana (várias, por sinal: da portaria, da porta da frente, do corredor, da porta dos fundos, do meu quarto, da garagem do carro, da garagem da bicicleta e do portão interno que ligava a garagem ao apartamento);

– Da casa dos meus pais em Campo Grande (portão, porta da frente, porta dos fundos e porta do meu quarto);

– Da empresa em que eu trabalhava no Centro do Rio de Janeiro (porta principal, porta do escritório, da gaveta e do armário);

– Do carro (incluindo o alarme);

– Da bicicleta.

Essas são as que consigo me lembrar: 18 no total.

[Pausa para o choque… nunca tinha contado!]

Por isso que eu sempre reclamava do peso da minha mochila! Imagine o peso de 18 objetos de metal que acionam fechaduras?!

Fechaduras me remetem à prisão. E hoje eu entendo que o peso da minha mochila não era somente das chaves, mas o que elas representavam: uma prisão urbana e social.

Para proteger nosso patrimônio, nos cercamos de grades. Vivemos na utopia de que somos livres correndo da casa para o trabalho e do trabalho para a casa, em troca de um salário para TER mais coisas com objetos que acionam novas fechaduras, as chaves – que, consequentemente, trazem mais peso e insegurança para a nossa mochila.

Mas como é possível viver sem chaves?

Quando adquirimos a consciência de que o verdadeiro sentido da vida está no SER e não no TER.

Ser livre para apreciar a Natureza.

Ser simples para entender que precisamos de pouco.

Ser humilde para dar e receber ajuda, cooperar e compartilhar.

A felicidade não tem chave e só é verdadeira quando compartilhada.

Viajando comigo mesma há um ano, por 15 países, aprendi que quando acreditamos na abundância do universo, recebemos naturalmente o que precisamos.

Em 365 dias de jornada, nunca me faltou abrigo e alimento, nem sorrisos e abraços.

Fui acolhida por pessoas desconhecidas, de diferentes nacionalidades, que abriram suas vidas e confiaram no meu projeto, compartilharam suas experiências, culturas, familiares, pets e amigos.

Recebi apoio dos que ficaram, alimento diário para a alma.

Tenho uma mochila de 15 quilos, um computador, um celular, um blog e muitos sonhos. Chaves somente eletrônicas, sem peso.

Sou uma nova Vanessa a cada dia.

Sou cada vez mais leve.

Adaptável e flexível.

Aprendi a valorizar a diversidade e a viver fora da zona de conforto, que nos limita.

A desacelerar e a apreciar o ócio.

Aprendi a respeitar os meus defeitos e a me cobrar menos.

A aceitar a minha fragilidade e pedir ajuda.

Aprendi a receber presentes!

Presentes que abriram portas sem fechaduras, sem chaves, comprovando que não precisamos delas.

Sou grata pela rede de cooperação que apoiou meus voos até aqui. Sem vocês eu já teria pousado.

Com amor, gratidão e celebração,

Vanessa Tenório

4 thoughts on “Um ano sem chaves

  1. Analia Irigoyen

    Sempre me emociono como o que você escreve amiga. Este texto me fez refletir muito sobre o que valorizamos quando temos muitas chaves. Amo você, tenho o maior orgulho de você. Um beijo enorme

    • Vanessa Tenório

      Ah, querida. Você sempre foi uma inspiração pela mulher guerreira que é. Fico muito feliz em saber que este texto te fez refletir sobre as chaves que adquirimos ao longo da vida. Gratidão por estar sempre me apoiando. Também te amo muito. Um beijo saudoso

  2. Fernanda Duran

    Que bacana, Vanessa!
    Parabéns por essa conquista! Um ano já se foi… e passou voando! Muitas experiências vividas! Incrível como é possível viver assim… e você prova isso todos os dias… Muito obrigada por mostrar tudo isso para nós 😉
    Siga em frente!
    Grande beijo!

    • Vanessa Tenório

      Passou voando mesmo, Nanda. É tudo tão intenso que parece que vivi anos. Melhor escola! Agradeço por estar sempre presente comigo nesta jornada. Você sabe o quanto te admiro! É a minha musa inspiradora no quesito simplicidade e coragem. Seguimos juntas! Um grande beijo com muita saudade

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