Construção natural na Dinamarca

A ecovila Friland recebe frequentemente grupos de turistas interessados em conhecer a diversidade de construções naturais da comunidade. No primeiro post sobre a Dinamarca, eu ressaltei a minha paixão pelos telhados. E não é que o universo me levou para a casa de mais uma mulher experiente em bioconstrução?! Ela ajudou o ex-marido a construir um dos telhados mais antigos e lindos da região. É o poder da sincronicidade!

Meu telhado preferido (antiga casa da Helle)

Helle Hestbjerg foi casada com um dos fundadores de Friland e está construindo uma nova casa usando a mesma técnica para o telhado. PHD em Microbiologia, é uma mulher multifuncional que equilibra força e delicadeza. Percebi o seu talento, liderança servidora e generosidade já na recepção com as primeiras conversas e instruções. Também é mãe de três filhos (a mais nova com 16), terapeuta do corpo através do sistema de massagem MA-URI, empresária do namorado músico e compositor Gary Snider, dançarina de tango e cuidadora de uma idosa cadeirante.

Colaborei com o seu projeto de construção durante seis dias. Confesso que às vezes algumas questões me passavam pela cabeça: Como uma microbióloga consegue projetar e construir a sua própria casa? Onde ela aprendeu a fazer tantos cálculos? A resposta veio logo nas primeiras atividades, quando eu mesma tive que fazer alguns cálculos para usar a furadeira, o serrote, a enxada e o andaime pela primeira vez na vida. Ou seja, na prática!

Helle admirando o seu projeto

Apesar do trabalho pesado, que me gerou algumas dores nas costas e nos pulsos, foi um prazer trabalhar com a Helle. Ela equilibrava as atividades ao longo do dia para evitar a monotonia e o cansaço da repetição. No primeiro dia, por exemplo, alternamos o transporte de areia utilizando o carrinho de mão com a colheita de frutos locais.

   

Nos deliciávamos, na maioria das vezes, com alimentação fresca e viva. Os jantares eram sempre especiais. Principalmente com a tradição da família de agradecer, de mãos dadas, por todas as conquistas do dia e a contribuição de cada um com o preparo do alimento. Pequenos gestos que fortalecem qualquer grupo.

Uso de recursos naturais

A casa é de madeira e tem como base conchas de mexilhão e algas para o isolamento.

   

Cada item tem uma história especial como a madeira central, que veio da casa do seu avó após resistir a um incêndio ocorrido na época da segunda guerra mundial, e a antiga escada de um teatro, onde passaram famosos artistas dinamarqueses.

A minha primeira ajuda foi com a movimentação da areia com o carrinho de mão para cobrir as conchas de mexilhão.

O telhado

Executamos algumas etapas para a construção de um telhado vivo com sedum, musgos e mais algumas pequenas plantas:

1) Buscar a terra própria para plantio (gratuita) na central de reciclagem

 

2) Transportar a máquina emprestada pelo vizinho para misturar a areia com a terra

 

3) Separar 60 sacos de café para depositar cada medida da areia e terra misturadas

 

4) Testar o processo: 17 lt de areia + 5 lt de terra (quanto mais terra, maior o crescimento das plantas)

 

5) Ensacar 60 sacos (média de 15 por dia)

 

6) Preparar para fechá-los com a costura

 

7) Costurar um por um

 

8) Montar o andaime

 

9) Elevar os sacos para o primeiro nível do andaime com a ajuda do trator

 

10) Transferí-los para o segundo e terceiro níveis do andaime sem a ajuda do trator (etapa mais pesada do processo)

 

11) Espalhar os sacos por todo telhado com a abençoada ajuda do forte filho militar

 

12) Uniformizar o conteúdo de cada saco

 

13) Celebrar a conclusão da primeira etapa do processo

Além dos vários sacos de café vindos do Brasil, tem a energia de uma brasileira carioca neste telhado dinamarquês!

Horas vagas

No tempo livre, descansar na rede e apreciar as mais variadas borboletas eram as minhas atividades preferidas.

Descobri alguns dias depois que essa espécie chama-se Vanessa 🙂

 

Também foi possível mergulhar pela primeira vez num lago escandinavo para aliviar as dores musculares, fazer piquenique, caminhada noturna na floresta para colher cogumelos e renovar profundamente as energias meditando em um abrigo feito de pedras há 3500 anos a.C. Foi uma das experiências noturnas mais incríveis que tive na vida. Os desconhecidos sons, o silêncio, a conexão com a Natureza e os ancestrais, a energia do lugar… tudo muito intenso!

Celebro a oportunidade de ter participado pela primeira vez de um processo de construção natural e agradeço imensamente a Helle por ter me proporcionado tantos aprendizados.

Enquanto eu escrevia este texto, recebi um e-mail da Helle com a indicação de uma ecovila no Japão, que ela própria intermediou o contato. Anjos enviados para cooperarem com o meu projeto… Gratidão!