Minha passagem pela Croácia durou um pouco mais de um mês. Além dos belíssimos lugares que conheci, tive a oportunidade de atuar como voluntária em duas ecovilas e visitar uma creche.
Compartilho abaixo as minhas experiências nesses espaços sustentáveis e educativos.
Voluntariado
Situada em Milna, na ilha de Brac, esta ecovila fundada por uma arquiteta alemã, que morou num barco durante 5 anos, foi o local com condições mais primitivas que vivenciei durante o primeiro semestre de viagem.
Basicamente construído com pedras secas, o ecocamping enfrenta a escassez de água, cujo sistema de coleta da água da chuva ajuda bastante nesta época do ano. O banho é bastante restrito e, para que os visitantes não esbanjem água, foram instaladas pequenas duchas em sacos térmicos com aquecimento natural solar. Portanto, em dias nublados ou chuvosos, o banho é frio.
Os espaços coletivos também são abertos: cozinha, área para descanso e templo de meditação, dificultando o acesso e a permanência nos dias de forte chuva.
As duas primeiras noites foram as mais desafiantes acampando com forte temporal, muito vento, raios e trovões. Parecia que a barraca ia decolar com tudo dentro. Com a condensação nas “paredes”, o interior começou a ficar molhado. Enquanto os fortes sons dos trovões, os flashes contínuos dos raios e a força do vento e da água me aterrorizavam, eu enxugava tudo com uma toalha. Eu era a única voluntária no espaço. Passei a noite inteira com medo do temporal que não cessava. Checava a todo momento se a água continuava entrando na barraca. Mas o cansaço da viagem permitiu que eu tirasse breves cochilos e sobrevivesse às longas 12 horas de chuva por duas noites consecutivas.
Como tudo estava encharcado, o primeiro dia de trabalho foi cortando e costurando almofadas para decorar a grande tenda, e enchendo pequenos corações com lavanda seca para serem vendidos na lojinha local de produtos naturais.
Nos dias de sol, foi possível:
– Construir paredes de pedras secas
– Apoiar na construção de uma nova entrada
– Preparar a terra e plantar
– Instalar as portas da grande tenda (espaço para eventos)
– Desmontar, limpar, reparar e guardar itens não utilizados nas próximas estações
As pedras funcionam como armazenadoras e captadoras naturais de energia e eu pude sentir o poder energético deste lugar durante os 16 dias em que estive por lá.
Espaço criado, a 60 km da capital Zagreb, para desfrutar um modo de viver consciente, respeitando a Terra e suas necessidades. Nutrir o solo, as plantas e todas as relações com um bom pensamento, uma boa palavra e uma boa ação.
Neste lugar fundado por um croata empreendedor de cosméticos naturais e administrado por voluntários, eu me senti em casa.
Cheguei num domingo e a família estava se preparando para o Temazcal – Cerimônia do Fogo Sagrado (medicina ancestral de purificação física e espiritual).
O peruano Fidel veio direto da América do Sul para realizar a cerimônia. Por ter passado a noite anterior viajando e não estar preparada física e espiritualmente, preferi não participar e apoiar o grupo na cozinha.
No dia seguinte, assisti à palestra ministrada pelo Fidel sobre plantas medicinais e, posteriormente, ajudei-o a descascar cogumelos amanitas.
O tempo também não estava muito bom nos primeiros dias, então colaborei com as atividades no interior organizando o quarto de hóspedes para a finalização do novo sistema de aquecimento.
Com o sol de volta, pude apoiar na colheita de tomates.
E neste momento, fui convidada a colaborar com a organização da cozinha e o preparo das refeições, assim como cooperar com o planejamento de melhorias para a comunidade.
Senti-me honrada com o convite do novo amigo belga, feliz e agradecida por ele ter identificado essas competências em mim.
Dei as minhas sugestões de melhorias para o próximo ano e prontifiquei-me a ajudar na implementação mesmo à distância.
Foram 10 dias muito tranquilos, imersos em clima de montanha na Natureza exuberante da região, trocando boas energias com os moradores, que me receberam calorosamente como membro da família.
Gratidão Gea Viva e Emerald Gardens pelas preciosas experiências em terra croata!
Educação
Dječji vrtić Milna
Cheguei até à creche através da Sabine, fundadora da Gea Viva, que intermediou o contato com a coordenadora pedagógica. Ambientada com as escolas escandinavas, identifiquei imediatamente a primeira grande diferença quando entrei nas instalações: banheiros separados por sexo. Que eu me lembre, foi a primeira creche que visitei na Europa com esta divisão.
Situada em frente à baía de Milna, é uma instituição pública que apoia 30 crianças através das Pedagogias Waldorf, Montessori e Step by step. Na minha visão, este mix de modelos pedagógicos foi o diferencial. Especialmente porque não acredito apenas em um único modelo.
Oferece diferentes espaços dentro da sala de aula para a criança escolher livremente o que pretende explorar: construção, cozinha, consultório médico, teatro, arte, didática (quebra-cabeças).
Compartilha valores, regras internas e externas e responsabilidades com os estudantes. No entanto, está longe de ser uma instituição sustentável, pois não separa o lixo e utiliza muitos itens descartáveis como copos, toalhas de papel e lenços umedecidos (reconhecimento da própria equipe pedagógica que busca uma transformação nesta área).
Tentei visitar algumas escolas na capital Zagreb, mas não obtive nenhum retorno das instituições que fiz contato. Portanto, não possuo muitas referências para opinar sobre o sistema educacional da Croácia. Pelo que obtive de informação dos moradores locais e de alguns professores que conversei, ainda precisa melhorar muito.