Recentemente, compartilhei aqui no blog minha experiência na cidade mais antiga da Holanda: Nijmegen – Capital Verde da Europa em 2018, situada a 85 km de Amsterdam e a 8 km da Alemanha.
Apesar de ser uma cidade anciã, Nijmegen tem uma vibe jovem com seus 20 mil estudantes onde todos os moradores (pasmem!) vivem a menos de 300 m de um espaço verde.
Para os visitantes que querem entrar no clima da capital sustentável da Europa, são oferecidas quatro diferentes rotas verdes. Como mencionei no post anterior, eu fiz as duas rotas mais longas e vou compartilhar neste texto o que explorei caminhando ao longo do parque fluvial.
São diversos pontos sustentáveis onde a cidade mostra o seu lado mais verde:
1. O ponto de partida é no Centro de Visitantes situado na Praça Kelfkensbos, que é o cartão de visita da Capital Verde de 2018 e onde é possível encontrar tudo o que você deseja saber sobre as atividades organizadas no contexto sustentável, tais como: exposições, oficinas, seminários e eventos, além dos mapas para usar como guia nas rotas a pé ou de bicicleta.
O pavilhão foi projetado pelo arquiteto flamengo Chris Poulissen, em forma de arco, e construído com recursos naturais como troncos de árvores e materiais circulares, fáceis de desmontar. Após 2018, será desmontado e reutilizado em outro lugar.
2. Prefeitura Sustentável
Nijmegen está bem encaminhada para se tornar neutra em energia. Isto graças aos painéis solares, telhados verdes, vidros duplos e triplos e iluminação LED. Tudo é feito para atingir a meta de zero emissões de CO2 até 2045. Este é um dos principais objetivos da Agenda de Sustentabilidade do município a partir de 2011. Um número crescente de iniciativas está surgindo na área de conservação de energia e geração de energia sustentável. Para otimizar esse movimento, governo, pessoas físicas, empresas privadas e organizações sociais estão trabalhando juntos no programa Power2Nijmegen, onde 200 pessoas já aderiram representando cerca de 60 organizações. Com essa co-criação, o município espera desbloquear e compartilhar o conhecimento e a criatividade na cidade. Ao fazer isso, oportunidades econômicas também são criadas.
Em 2016, o consumo de energia caiu cerca de 17% em relação a 2008.
3. Pontos para beber água direto da torneira
Durante a rota, é possível encontrar água potável em diversos pontos da cidade, uma iniciativa da empresa de água Vitens e da organização Join the Pipe, dedicada a promover o uso da água da torneira. Estes pontos foram desenvolvidos para neutralizar o lixo plástico. Na Holanda, 182 milhões de garrafas de plástico são descartadas a cada ano (500 mil por dia!).
4. Reutilização e Reciclagem | Tudo tem valor
As 24 lixeiras ao longo do cais fazem parte do projeto Caminhada de Resíduos, uma rota de 1,5 km sobre o cais cujo objetivo é conscientizar as pessoas sobre os resíduos plásticos que acabam no Waal, em outros rios e no mar. Artistas transformaram as lixeiras em peças de arte para facilitar a conscientização.
5. Mirante do Parque Fluvial
Do mirante no Valkhofpark, um dos lugares mais antigos de Nijmegen, é possível ter uma noção do tamanho do rio Waal e o novo parque fluvial construído do outro lado. Para proteger os moradores contra os altos níveis de água, o dique (represa) foi movido 350 metros para o interior. Como resultado, essa parte do Waal ficou duas vezes mais larga.
O nível da água dos Países Baixos é um grande desafio para a população, especialmente com os efeitos das mudanças climáticas, e tem sido trabalhado nas escolas e no meio acadêmico como um dos principais projetos entre os estudantes.
6. Parque Fluvial
É uma área de lazer que foi criada após a criação de mais espaço de transbordo para o Waal. Este procedimento foi necessário para proteger os moradores contra a água. Como parte do projeto, especialmente no local onde o rio faz uma curva acentuada, um canal lateral foi criado: o Spiegelwaal. Quando há altos níveis de água, o canal lateral enche, reduzindo a pressão no próprio Waal. Como resultado da escavação do canal lateral e do deslocamento dos diques, uma ilha alongada surgiu no meio do rio: Veur-Lent. Esta ilha está localizada entre o centro histórico e o novo distrito da cidade. Todo o projeto proporcionou alguns benefícios extras, como a ponte Lentloper, o próprio canal lateral – onde é possível nadar ou fazer canoagem, e o cais Lentse Warande de 600 m de comprimento.
7. Ponte Lentloper
Mencionada como legado no item anterior, esta ponte liga a ilha Veur-Lent ao continente e é uma verdadeira beleza. O arquiteto belga, Laurent Ney, a chamou de palco na água. Apesar de transportar principalmente pedestres e ciclistas, alguns poucos carros também são vistos.
Diferentes níveis separam os veículos dos pedestres e bicicletas. A via central se eleva em direção ao meio da ponte, enquanto os caminhos e ciclovias laterais descem em direção ao centro. Superfícies de inclinação transversal conectam os níveis. As conexões cruzadas abaixo do convés são tesouros escondidos de onde se pode apreciar o fluxo do rio.
8. Comunidade IEWAN
O que começou com um sonho compartilhado – vida sustentável e comunitária – transformou-se numa comunidade residencial de 24 propriedades de habitação social em 2015. Residentes e voluntários trabalharam em conjunto com profissionais da construção civil para construir o complexo ecológico, feito de palha, barro e madeira, e coberto com painéis solares e filtros de junco (planta utilizada para a purificação de águas residuais).
A comunidade IEWAN oferece espaço para famílias, grupos de convivência, solteiros e casais. Atualmente, 44 adultos e 7 crianças compartilham áreas comuns, como a horta comunitária que tem a permacultura como base.
Com um estilo de vida sustentável, seus moradores compartilham também carros, ferramentas, máquinas de lavar, aspiradores de pó e outros utensílios e equipamentos.
A vida compartilhada tem várias vantagens. No campo ambiental, menos matéria-prima e insumos são consumidos ao viver em uma habitação compacta onde espaços comuns são compartilhados. No campo social, vivendo juntos, surgem iniciativas onde as pessoas podem ajudar umas às outras ou simplesmente partilhar conhecimento e inspirar novos projetos.
Compartilhar espaço e responsabilidades também estimula uma economia sustentável e inclusiva: os próprios residentes fazem a manutenção e gestão do local, em vez de terceirizar os serviços. Isso significa que a renda pode permanecer relativamente baixa e as unidades habitacionais são acessíveis para todos os tipos de renda.
9. Escultura WATERIS
Esta obra de arte consiste em um lençol freático formado com as letras WAT ER IS (what there is, em inglês) e dois poços de bronze. Um deles tem a expressão romana “cedo nulli” utilizada para assustar os intrusos e significa: eu não me moverei por nada/ninguém (uma referência aos ataques que Nijmegen recebeu no passado). Ao mesmo tempo, a expressão se refere a uma característica típica da água que busca seu próprio caminho e faz seu próprio fluxo. Esta obra de arte representa o ponto final do sistema de separação da água da chuva e a transferência para uma grande área no centro da cidade. Separar a água da chuva é um dos princípios estratégicos do Plano de Água da capital verde.
10. Escadas de Água
Ainda sobre o pilar mudança climática – vida com água, a cascata na Stikke Hezelstraat e os jatos de água (Bedriegertjes) no Koningsplein também fazem parte deste plano estratégico.
Através das escadas, a água da chuva limpa que é coletada na Grote Markt flui para a escultura WATERIS (item 9). E esse processo flui muito rápido, em declive.
Um dos objetivos do plano de água da cidade é separar a água da chuva do sistema de esgoto misto. Na maioria das ruas comerciais, a água da chuva é direcionada para o solo através de tubulações subterrâneas.
11. Korenmarkt
Há alguns anos, a prefeitura juntamente com os moradores locais transformou o estacionamento que funcionava no local em um parque público, que passou a ser utilizado como área de lazer. As ruínas de uma antiga capela podem ser encontradas no espaço, incluindo tumbas de cavaleiros. No parque, é possível também encontrar um pequeno curso de água da chuva circulando durante o verão.
12. Laboratório de Arte
No limite da área de desenvolvimento, o norte de Nijmegen abriga um pedaço de terra onde o passado agrícola ainda é tangível: uma fazenda residencial com algumas hortas e pomares. Toda a área verde está sendo projetada para construção de residências ecológicas. Com base no que já está disponível (materiais, natureza, conhecimento e iniciativas do entorno), pesquisadores, criadores e artistas estão esboçando possibilidades de desenvolver um ambiente sustentável e habitável.
Quando um novo experimento toma forma, o trabalho é desenvolvido e apresentado. Pesquisadores, artistas, designers, estudantes, produtores locais e (inter)nacionais são convidados a realizarem suas experiências no quintal. As salas já disponíveis são utilizadas para encontros, workshops e eventos.
13. Stadswaard
Há poucos minutos a pé do centro da cidade, é possível relaxar, nadar ou fazer um piquenique em uma das praias do rio! Na localização do canal antigo, quase completamente obstruído, um canal lateral muito maior foi criado. Esse canal possui uma conexão aberta com o Waal permitindo uma influência maior do rio sobre a natureza no Stadswaard. O rio traz areia, argila, pedaços de madeira, estacas e sementes para as margens. Mais água significa mais vida, ela atrai plantas e aves aquáticas, peixes e outras espécies. Na orla e nos campos, os animais de grande porte como bois e cavalos interagem naturalmente com os frequentadores do espaço natural.
14. Ponte para bicicletas
Dentro do pilar mobilidade inteligente, em 2004, a então Ministra dos Transportes, Carla Peijs, inaugurou uma das maiores pontes cicloviárias do país, ligada à ponte ferroviária que já existia desde 1879.
Com um comprimento total de 2 km e um vão principal de 235 m, o nome da ponte Snelbinder significa “ligar (conectar) rapidamente” cujo objetivo principal é oferecer uma conexão rápida para os moradores do Lent, subúrbio do outro lado do rio.
A população de Nijmegen tem orgulho de cada centavo investido na ponte de vias largas, com telas protetoras contra o vento e boa iluminação. Tudo em benefício da segurança social (inclusive no período noturno).
15. Estacionamento de Bicicletas na Praça 1944
Mesmo sem bicicleta, este estacionamento subterrâneo está presente na rota verde dos pedestres por conseguir unir história, mobilidade, tecnologia, criatividade e sustentabilidade em um só projeto!
Situado na Praça (Plein) 1944, um dos primeiros locais da Holanda tomado pelas tropas de Hitler na 2a. Guerra Mundial (em 1940) e bombardeado por aeronaves americanas (em 1944) com grandes danos ao centro, é gratuito e tem capacidade para 1000 bicicletas com o sistema de dois andares 2ParkUp.
Na descida, tem uma espécie de amortecedor para a bike não correr mais que o pedestre. E na subida, há uma esteira que facilita o transporte na escada.
Visitei o local em outra oportunidade com uma bicicleta e fiz um vídeo que pode ser visto aqui.
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Todos estes pontos estão concentrados no entorno do parque fluvial e podem ser explorados caminhando. Na rota de 40 km de bicicleta, tema do próximo texto, apresentarei diferentes iniciativas sustentáveis.