Três ações para apoiar mulheres e meninas

Antes de entrar no modo automático das redes sociais e desejar “feliz dia” para todas as mulheres do seu círculo social, te convido a conhecer os fatos listados abaixo e refletir sobre quais ações você, enquanto indivíduo (homem ou mulher), pode fazer para a mudança positiva deste cenário.

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35% das mulheres sofreram violência física e/ou sexual. 49 países carecem de leis que protejam as mulheres da violência doméstica.

750 milhões

Quase 750 milhões de mulheres e meninas vivas hoje foram casadas antes dos 18 anos e pelo menos 200 milhões, em 30 países, foram submetidas à mutilação genital feminina.

52%

Apenas 52% das mulheres casadas ou em união decidem livremente sobre suas relações sexuais, uso de contraceptivos e assistência médica.

77 centavos

As mulheres ganham apenas 77 centavos por dólar que os homens recebem pelo mesmo trabalho. Em 18 países, os maridos podem impedir legalmente suas esposas de trabalharem; em 39 países, filhas e filhos não têm direitos iguais de herança.

24%

Apenas 24% dos parlamentares nacionais eram mulheres em novembro de 2018, um pequeno aumento em relação a 11,3% em 1995.

Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU)

Como sugere o título deste texto, compartilho três ações que eu, enquanto indivíduo, realizei nos últimos dias para ajudar e empoderar mulheres e meninas.

1) Quebrar paradigmas

A população da pequena ilha em que estou no sul da Tailândia (Koh Yao Noi) é, em sua grande maioria, muçulmana.

Eu morei com uma das famílias locais por um mês e decidi ajudar o proprietário da casa criando uma conta no Booking.com para atrair mais hóspedes como eu.

Enquanto a esposa e a filha estavam sempre ocupadas fazendo todo o serviço doméstico e agrícola, a minha comunicação se concentrava com o patriarca por ser o único a ter inglês básico.

Após a criação e configuração da propriedade no Booking, meu desafio foi treiná-lo para que ele pudesse se comunicar com os hóspedes através da plataforma sem a minha ajuda.

Desde o início do processo, eu sugeri que a filha fosse envolvida porque percebi a limitação do pai com o uso de tecnologia. A resposta que obtive foi: “Não. Ela não fala inglês.”

Não desisti. Após uma semana e numerosas tentativas não bem-sucedidas em treina-lo, chamei a filha na frente dele e pedi que ela instalasse o aplicativo na versão tailandesa em seu aparelho celular.

Fizemos o processo simultâneo no meu aparelho (em inglês) e no dela (em tailandês) e, para a surpresa do pai, ela aprendeu na primeira explicação.

Hoje, ela é a administradora da conta e responde as mensagens de todos os hóspedes. Os cinco bangalôs estão ocupados desde então e a renda da família quadruplicou, já que eu era a única hóspede naquele período.

Por que estou compartilhando essa experiência? Porque naquela família, o homem era o “detentor do saber” e a filha ficava somente nos bastidores, executando o serviço braçal com a mãe.

Com o meu estímulo, foi descoberto que ela tem um potencial incrível para gestão, e já está até opinando estrategicamente na redução temporária do valor das diárias para se destacar em relação à concorrência.

Quebrei o paradigma daquela pequena família.

2) Reconhecer

Atualmente, estou desenhando o programa de sustentabilidade para um dos resorts da mesma ilha, cuja maioria da equipe é formada por mulheres.

Eu senti o desejo de reconhecer o valioso trabalho que elas fazem e recorri à Mãe Natureza.

Durante a minha caminhada matinal, coletei pequenas conchas da mesma espécie e tamanho para presenteá-las e agradece-las pela diferença que cada uma tem feito através do seu empenho.

Usei a metáfora da concha para mostrá-las o quanto elas são fortes, sensíveis e belas em sua diversidade.

Recebi sorrisos e abraços espontâneos.

3) Educar

Disse sim precocemente para a África!

No início deste ano, em uma das minhas meditações, eu recebi um chamado muito forte para ajudar as pessoas em situação de vulnerabilidade e pobreza. O que me fez decidir focar mais em projetos sociais.

Acessei o site da ONU e apliquei para vagas em Myanmar e Camboja (por planejar ficar na Ásia até o final de 2020).

Para a minha surpresa, a organização parceira fez contato me oferecendo oportunidades em três diferentes países da África.

Foi um longo e rigoroso processo seletivo. Na semana passada, recebi as boas-vindas ao time e a feliz notícia de que a próxima fase seria a escolha do país de atuação para contato direto com a equipe técnica.

Priorizei inicialmente Moçambique e tive a primeira reunião com duas mulheres moçambicanas empoderadíssimas, que estão liderando o projeto sócio-educacional com duração total de cinco anos e previsão para iniciar em julho ou agosto.

Por que estou compartilhando essa proposta? Porque o projeto é para alfabetizar 3000 meninas e adolescentes que tiveram casamentos arranjados precocemente, e que nunca tiveram a oportunidade de ir à escola.

A maioria já é mãe e algumas têm deficiência física e mental.

Se eu de fato for para Moçambique (ainda tenho reunião com outros dois países), terei a rica oportunidade de contribuir com o processo de educação-aprendizagem destas meninas, tornando-as resilientes e capacita-las para saírem desta terrível estatística mencionada acima.

***

O principal objetivo desse texto é chamar atenção para a realidade local e global. Cada um de nós pode realizar pequenas ações para alcançar a igualdade de gênero.

Listo mais cinco exemplos além dos três já mencionados:

  1. Aprender e compartilhar maneiras de acabar com o sexismo;
  2. Criar filhos conscientes da igualdade;
  3. Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho;
  4. Defender os direitos reprodutivos das mulheres;
  5. Opor-se à violência contra mulheres e meninas.

“Nós subestimamos o nosso poder – e é a primeira coisa que precisamos combater. Meu pai, quando decidiu ser feminista, precisou lutar contra a ideologia que o guiou a vida toda. Acreditem na força que vocês têm. Não hesitem em falar”.

Malala Yousafzai, jovem paquistanesa, escritora, ativista e mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz